Bike dos sonhos, só nos sonhos

Cerca de dez anos atrás, não era comum vermos as top bikes nas mãos dos ciclistas brasileiros. Era uma raridade que chamava atenção. Aquelas que custavam cerca de US$ 3.000 nos Estados Unidos ou na Europa, quem quisesse e pudesse teria de trazer na bagagem.

De repente, a coisa explodiu. Tanto no MTB quanto no road vimos um fenômeno em que as pessoas que podiam adquiriam bikes top de linha. Até os importadores passaram a trazer esses modelos regularmente para o país.

A evolução da tecnologia e do design está bastante intensa e, apesar dos números indicarem que as vendas não estão correspondendo às expectativas da fase pré-crise financeira, o lançamento de novos produtos continua acontecendo.


Esse processo tem feito com que os preços das bikes e componentes de primeira atinjam a estratosfera. Na coleção 2010, a maioria das marcas fortes no mundo apresentará modelos que custam acima de US$ 10 mil no mercado americano. Fora isso, hoje temos uma gama de ofertas de rodas leves como Lew Racing, Tune, Lightweight, DT, que podem custar facilmente mais de US$ 4 mil o par. Some a isso pedivelas de carbono, câmbio eletrônico, pedais superleves e com rigidez estrutural superior, freios de produção limitada, potenciômetros e tudo mais que se possa imaginar.

Isso criou uma inversão de parâmetros em certos sentidos. Enquanto a União Ciclística Internacional (UCI) limita o peso mínimo de uma bike em 6,8 kg em suas provas, algumas das marcas de ponta disponibilizam no mercado modelos abaixo de 6 kg. Se tiver o cacife para bancar, você pode montar uma com menos de 5 kg. Alguns dos nossos colegas estão rodando em bikes mais leves do que aquelas utilizadas pelos ciclistas profissionais em provas como Tour de France ou Campeonato Mundial – infelizmente, não faço parte desse time por 100 g.

Acho que no nosso meio o final desta década – que já estamos vivendo – será evidenciado pelo fato de as bikes top tornarem-se coisas raras uma vez mais. São poucas pessoas que podem pagar R$ 40 mil ou mais em uma. Independentemente disso, as bikes nas quais rodamos hoje são muito melhores do que aquelas que utilizávamos dez anos atrás.
Além do mais, uma coisa muito legal nesse esporte é o fato do fator “ciclista” ter um peso muito maior do que o fator “bike”.


Certa vez estava na estrada com Odair Pereira. Ele estava de Speedster de alumínio e eu com a Scott CR1 SL novinha em folha. Senão me engano, os componentes dele era Shimano 105 e o meu Dura-Ace. Saímos de Indaiatuba, passamos por Salto, interceptamos a Estrada dos Romeiros até Cabreúva e subimos a serrinha para a Rodovia Dom Gabriel. Já tinha apanhado de todo jeito, mas o Odair me esperava e me incentivava. Não via a hora de chegarmos na descida para Itu para morcegar na roda dele.

Mas o Odair continuou a acelerar mesmo na descida. Eu estava me esgoelando a quase 70 km/h e girando a mais de 110 rpm. Foi quando reparei na super cadência das pernas do Odair. Ele estava no volante menor, “girando para dar uma soltadinha”.


Depois da descida, resolvi me juntar à turma que vinha atrás. A minha CR1 deve ter ficado sentida, mas hoje acho que já se acostumou com a ideia de que ela é uma bike de um cara que é apenas uma média normal.

Por Makoto Ishibe disponível em : http://prologo.uol.com.br/